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Jorge Pereira Filho, O debate sobre a relação dos povos indígenas com os organismos multilaterais foi uma das mais polêmicas e produtivas discussões da II Cúpula Continental dos Povos e Nacionalidades Indígenas. O encontro está ocorrendo em Quito, Equador, entre os dias 21 e 25, e reúne organizações indígenas de 24 países americanos. De um lado, estão entidades que acreditam que a única forma de defender os direitos indígenas é assumindo uma posição crítica e combativa frente a organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. De outro lado, estão representantes de entidades favoráveis a um diálogo com esses organismos, não excluindo a possibilidade de serem contemplados em seus projetos. Todos, no entanto, reconhecem que as organizações desrespeitam os compromissos com os direitos indígenas. A pertinência do debate é justificada pelo fato de que os organismos
internacionais estão assumindo um papel cada vez mais estratégico
no processo de globalização neoliberal. O FMI e o Banco Mundial
utilizam programas de financiamento para pressionar e obrigar governos, sobretudo
de países pobres, a desenvolverem políticas que favorecem as
transnacionais européias e estadunidenses. Tais políticas impedem
os Estados de terem políticas autônomas e favorecerem seus povos – o
que impede os indígenas de conseguirem assegurar seus direitos. Já Antonio Jacanamijoy, indígena colombiano, ex–coordenador do Fórum de Permanente para as Questões Indígenas, da ONU, procurou contemporizar e disse que houve avanços nas negociações com os organismos internacionais. “Não podemos nos isolar do processo. Se o Banco Mundial e o FMI querem conversar conosco, vamos até lá colocar nossas posições”, opinou. O equatoriano Ampan Caracras, da Coordenadota das Organizações Indígenas de la Cuenca (Coica), também seguiu a mesma linha e reclamou que os indígenas recebam apenas 40% dos projetos do Banco Mundial em seu país, enquanto representam a imensa maioria da população. Caracras, no entanto, reconheceu que os organismos dizem que reconhecem os direitos indígenas, mas não têm feito nada para implementá-los. Perversidade liberal O hondurenho contou que há muitos casos em que líderes de comunidades
indígenas são cooptados pelos organismos internacionais, que
lhe contratam para defender seus interesses. “Como nós temos o
costume de acreditar muito em nossos irmãos, esses organismos se aproveitam
de oportunistas para implantar seus projetos”, critica. Plano Puebla Panamá Os técnicos do Bird pegaram o mapa da América Central, desenharam o projeto do PPP e ignoraram a presença dos povos milenares que estavam ali, no meio das rotas das rodovias, ferrovias ou mesmo vivendo onde seriam construídos aeroportos. Em nome do desenvolvimento ou da civilização, o governo mexicano e o Bird ofereceram indenizações aos indígenas. Quem não estivesse satisfeito seria retirado pelo uso da força. “Não aceitamos essa imposição. Tomamos as ruas, fechamos avenidas e impedimos que iniciassem as obras”, conta Torres. Durante os prostestos, um líder comunitário foi preso e houve fortes confrontos. Mas, até agora, a vitória é dos povos indígenas. “Depois da resistência popular, o governo mexicano suspendeu as PPPs. Mas isso pode ser temporário e, por isso, temos de estar mobilizados para enfrentar essas instituições multilaterais”, contou Torres. Para ele, tais organismos não iriam levar desenvolvimento, energia elétrica e prosperidade aos povos, como se divulgava. “Eles vão, na verdade, poluir nosso meio ambiente, aumentar nossas dívidas e acabar com nossa autonomia. Temos outro projeto para nosso desenvolvimento e queremos implementá-lo”, revelou Torres. Declaração final |
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